quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Dois belos discos de hip hop



Enquanto toda a atenção da mídia parece ter se voltado para Lil’Wayne, dois belos discos de veteranos foram lançados.

Untitled é chocante, um álbum completamente centrado de Nas. A história já está batida: um disco conceitual a partir dos diferentes significados da palavra “Nigger”, que inclusive teria este título antes de Wall-Mart dizer não (como o próprio Nas descreve no messiânico primeiro single “Hero”). As faixas iniciais não escondem que ele não resiste as possibilidades de um hit mesmo que sacrifique a produção para isso (“Hero” ou “Make the World Go Round”), mas o disco vai crescendo faixa a faixa, com uma transparência conceitual rara. Na altura da divertidíssima “Sly Fox” percebemos que Nas não está simplesmente flertando com polêmica e levando a idéia do álbum muito a sério. Dali em diante é uma faixa clássica atrás da outra começando com “Testify”, das melhores que ele já gravou, em que vai ao analista lidar com síndrome pós-escravidão até a épica conclusão “Black President” (com sampler do Tupac para que não reste duvidas da grandiosidade), passando por pérolas como “Untitled”, “Project Roach” e sobretudo a sublime “Y’All My Niggers”. Que logo antes de Obama dar as caras, Nas faça um rápido desvio pela ficção científica em “We’re not Alone” só confirma que este um dos discos mais inteligentes do ano.

Não dá para recomendar o novo do RZA com tanto entusiasmo, mas é uma pena que o disco tenha passado em branco. Quando criou Bobby Digital, RZA parecia em busca de um projeto de férias. Uma desculpa para curtir um pouco se vestindo de pirata e bancando o super-herói (ao menos, ele chegou lá alguns anos antes de Hollywood). Poderíamos imaginar que Digi Snacks seria mais do mesmo, especialmente ficando pronto alguns meses depois de um álbum estressante e mal recebido do Wu-Tang Clan, mas Bobby mudou, passou pelas mãos de algum roteirista de quadrinhos com síndrome de Alan Moore e se tornou soturno, paranóico, tendo que lidar com o mal que reside dentro dele, etc. Bobby Digital deixou de ser a casa de praia de RZA para se tornar parte essencial do seu projeto de extrair uma poesia grave dos dejetos da cultura pop. O destaque como não podia deixar de ser é a produção cada vez mais rica e variada para o desespero dos puristas. Nenhum filme de super-herói do ano é tão vigoroso, perigoso e envolvente quanto “Good Night”.

4 comentários:

Anônimo disse...

A capa de quando o disco ainda se chamava Nigger causou um belo caos em uns sites por aí. Eu já baixei, mas ainda não ouvi. E Illmatic é meu disco favorito de hip hop.

Filipe Furtado disse...

Eu acompanhei.

O Illmatic é mesmo um disco muito foda, se me pedissem para listar meusquinze ou vinte discos de hip hop favoritos certamente estaria lá. Este novo é o melhor dele desde o Ilmmatic.

herax disse...

Eu também adorei esse álbum novo do NAS! Agora o RZA não curto muito; dessa galera do Wu-Tang meu predileto é o Killah Priest.

herax disse...

Ops, repare na melodia da musica America do NAS. É baseada na música-tema do Scarface!